UMA VISÃO CRITICA RADICAL DE UM MUNDO RIDICULARMENTE IMORAL

SER COMPASSIVO É SUBVERTER-SE AO SISTEMA

segunda-feira, 13 de julho de 2009

SINFONIA DE UMA PRAÇA

Um fundo sonoro triste preenche o nosso coração quando um ente querido sofre alguma dor ou é submetido aos cuidados de um hospital.
Uma sinfonia medonha tomou conta de nossa família nesta semana quando a nossa mãe, matriarca da família, sofreu uma cirurgia. Guiado ainda pelas notas musicais, fui encarregado de buscá-la no dia de sua alta.
Do quarto do hospital onde estava internada, estende-se um corredor que ao seu final abre-se uma grande janela que dá vistas à uma praça com grandes arvoredos. Estava então a esperar que os profissionais preparasse a paciente para levá-la para casa e resolvi apreciar da janela os movimentos da rua.
Era uma quarta-feira, cinco horas da tarde, a vista da praça me encantou de sobremaneira que fiquei por algum tempo a admirá-la.
Estava a pensar que por aquela janela algum paciente que porventura não estivesse contente com sua vida pudesse até se desfazer dela saltando lá embaixo. Mas a bela paisagem me fez buscar outras maravilhas como árvores centenárias, várias pessoas sentadas, algumas crianças. Uma banca de revistas e outra de frutas disputam os clientes que passam.
Pensei também que algum doente pudesse enxergar da janela uma nova vida e buscar entre os arranha-céus e as dores, uma saída, um pouco de paz e harmonia.
Não passava das cinco e quinze quando de repente, uma nuvem de pássaros começou a invadir o espaço aéreo da praça e pousar nas copas da árvores. Eram rolinhas, ou pequenas pombas, que em grupos de dezenas ou centenas, vinham de todas as direções. Em poucos minutos as copas das árvores estavam completamente marrons e os movimentos de vai-e-vem das trocas de galhos faziam um ruído interessante. De repente não estava mais ouvindo a música triste da sinfonia do meu coração. Estava alegre e imaginando os poucos espaços que aqueles pássaros ainda podiam ter para viver. Imaginei que naquela praça pudesse ser um ninhal, onde a reprodução daquelas aves estivesse garantida.
Mas, por ironia , ou para me decepcionar, uma música forte feito estampidos ecoou no largo da praça. Um homem, dono da banca de revistas, incomodados pelas fezes que as aves produziam no telhado de seu comércio, lançou muitas bombas e rojões, provocando um revoar das aves e assustar inclusive as pessoas e crianças que naquele momento aproveitava da tranqüilidade da praça.
- Ele faz isso todos os dias, disse uma camareira do hospital que passava no corredor. Mas depois elas voltam, elas sempre dormem nesta praça.
Que triste momento. A sinfonia triste voltou a tocar em meu coração. Fiquei a comparar aquele homem ao Hitler da Alemanha, que incomodado com a pobreza e simplicidade de um povo resolveu eliminá-los.
Pensei que, se o nosso governo, neo-liberal, se incomodar com o nosso modo simples de viver, da nossa falta de moradia, da nossa pobreza e desemprego; e ao invés de investir em infra-estrutura para fazer crescer este povo, resolve espantá-los do seu espaço ou do espaço que ele conquistou usando bombas ou outros artifícios piores.
Pensei se a nossa vida será garantida, se continuar existindo pessoas egoístas, que de posse de um espaço ( ou cargos) cedido por lei ( ou pelo voto) se sintam no direito de tomar para si o direito de comandar batalhas unilaterais que visam somente o seu benefício.
Precisamos proteger as nossas aves e garantir os espaços conquistados. Precisamos continuar buscando eliminar sinfonias tristes e trazer de volta o som alegre das bandas das praças e dos coretos...

È hora de fechar a janela. As aves já voltaram e pousam tranqüilas das copas das árvores. Vamos para casa.

Um comentário:

  1. Parabéns Paulo e Bia pelo presente maravilhoso que ganharam nesta vida, a cumplicidade nestes 24 anos de alegria e amor.
    Abraço, Deni.

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