UMA VISÃO CRITICA RADICAL DE UM MUNDO RIDICULARMENTE IMORAL

SER COMPASSIVO É SUBVERTER-SE AO SISTEMA

sábado, 11 de julho de 2009

UMA XÍCARA DE AÇÚCAR


Numa visita à um amigo no sitio na região de Caconde, fiquei surpreso com as relações que ainda existem entre as pessoas moradoras no campo.
A disponibilidade de ajuda, a troca e a solidariedade, faz com que aquelas pessoas se sintam bem sem a necessidade de possuir grandes posses ou grandes confortos. Um equipamento pode servir a vários vizinhos e a manutenção dele em boas condições é muito favorável à todos.
Nas cidades, ou melhor, na maioria das cidades, este privilégio acabou a muito tempo. Temos hoje vizinhos que nem ao menos sabemos o nome. Muitas vezes, o respeito ao direito pessoal é totalmente ameaçado por brigas, algazarras, festas abusivas e até a presença de animais barulhentos que impedem a tranqüilidade do descanso, da leitura ou do trabalho doméstico.
O egoísmo nas cidades é tão grande que as pessoas jogam seus entulhos e lixos nas calçadas do vizinho, nos terrenos vizinhos e depois ficam a reclamar que os ratos e baratas proliferam e invadem suas residências causados pelo seu próprio lixo.
As comunidades estão perdendo seus membros para o mundo solitário dos grandes muros, onde as pessoas se comunicam através de interfones e câmaras de vídeo. As igrejas estão se esvaziando de amigos cooperadores e se enchendo de falsos cristãos à procura de soluções para o seus problemas mais imediatos, que quase sempre são a doença e a falta de dinheiro.
Ninguém hoje se coloca à disposição para colaborar na solução de problemas comuns. Todos criticam os governantes por todos os fatos e suas conseqüências. Ninguém se lembra de que uma casa é construída de pequenos tijolos. De que pequenas obras em comunidade rendem muitos benefícios. Todos querem se fechar em seus redutos seguros e usar o telefone para cobrar o imposto que pagou e não recebe os benefícios em troca.
Quando alguém se destaca numa posição de defensor da comunidade, todas as críticas são canalizadas a ele, e ninguém se coloca à disposição para colaborar. Bobo daquele que se candidatou para servir de representante desta massa de manobra capitalista e egoísta que só vê motivo de participar se houver algum retorno financeiro ou vantagem pessoal.
Todos querem dar a sua parte em dinheiro. Aquele s que não os têm dão a sua parte em cobrança e exigência.
Eu gostaria de poder “comprar” uma boa escola pública para os meus filhos, um serviço de saúde público de boa qualidade, uma praça para andar de bicicleta em segurança.
Eu gostaria de poder “comprar” de volta a solidariedade e a paz de um povo que perdeu o direito e a alegria de ter vizinhos e amigos a quem possa pedir emprestado uma xícara de açúcar.
Eu gostaria de poder “comprar” de volta o amor próprio das pessoas, que está sendo vendido em troca de prazeres passageiros.
Eu gostaria de poder “comprar” o direito de meu filho crescer livre e feliz, e poder viver sem medo, sem angústia e sem depressões.
Eu queria...

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