UMA VISÃO CRITICA RADICAL DE UM MUNDO RIDICULARMENTE IMORAL

SER COMPASSIVO É SUBVERTER-SE AO SISTEMA

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

BENÇA, MAMÃE.

O portão se abriu e ela veio sorridente me receber. Um abraço gostoso de amor verdadeiro, de paz, de alegria, de satisfação.
Bença, mamãe!
Deus te abençoe, Paulinho. Deus abençoe você por ter vindo me ver.
Um beijo na minha face sacudiu as minhas emoções. Já fazia mais de quinze dias que eu não via a minha querida mãe. O meu coração chorou mais ainda quando sentou-se do meu lado, apanhou a minha mão e perguntou:
- Você está bem? Estou preocupado com a sua saúde. Você está fazendo o regime que o médico pediu?
Fiquei com vontade de perguntar sobre a saúde dela, mas não perguntei, apenas respondi efusivamente às suas perguntas, como se a minha saúde era tudo de mais importante no mundo.
De repente me senti pegado no colo. Ela me abraçou, me falou da vida, da perseverança, das minhas doenças infantis e da minha adolescência.
Deitei no seu colo e com lágrimas nos olhos falei das minhas fraquezas, dos meus medos, da minha incoerência e da minha incompetência de amar a vida na plenitude. Ela me afagou.
O seu afago me tornou criança. Fechei os olhos ainda molhado e lembrei-me da sua proteção quando na minha timidez me escondia do mundo e da realidade. Vi-me ainda descalço pisando num caco de vidro e a busca desesperada do pó de café para estancar o sangue que não parava de jorrar. Nos primeiros dias de aulas, o carinho com que penteava meus cabelos para que eu ficasse “mais bonito”. O caldeirão de comida e o embornal azul que entregava em minhas mãos, prontos para o caminho da escola. Vi-me na adolescência tomando atitudes contra a vontade do meu pai e ela me apoiando incondicionalmente. Vi-me moço, chegando da faculdade tarde da noite e encontrando em cima do fogão o prato pronto do meu jantar. Vi-me homem, já formado, anunciando o meu casamento. Senti a separação naquele momento.
Abri os olhos de sobressalto, olhei em seu rosto e vi no seu semblante o peso da velhice dos seus quase oitenta anos. Levantei-me do seu colo, abracei-a muito apertado e disse-lhe olhando nos olhos:
- Mamãe eu te amo muito.
Ela chorou. Um choro contido de alegria. Levantou-se, foi até a cozinha, enxugou os olhos e me convidou:
- Vem pra cá Paulinho. Vou fazer um café prá nóis...
- Esfreguei os olhos com as costas da mão direita e fui sentar-me na cozinha enquanto do fogão exalava o cheiro gostoso do café fresco.
Ela serviu o café com um naco de biscoito de polvilho e um queijo meia cura. Conversamos ainda por meia hora. Um forte abraço e um beijo selou a despedida.

- Tchau! Bença mamãe. Eu te amo muito.

- Tchau, me filho. Deus te abençoe. Eu também te amo muito.

Paulo Freitas

Nov/2010